Também invocada como “Nossa Senhora do Ó”, em referência à exclamação de expectativa do nosso coração que aguarda a vinda do Salvador

 

Nossa Senhora da Expectação é a devoção mariana pela qual recordamos a Santíssima Virgem Maria que traz em seu seio o Menino Jesus, em grande expectativa e esperança pelo Seu Nascimento. Essa comovente e belíssima imagem de nossa Mãe ganhou ainda outra invocação popular repleta de significado: a de “Nossa Senhora do Ó“, celebrada pela Igreja em 18 de dezembro, já às portas do Santo Natal. A respeito dessa devoção tão inspiradora, compartilhamos o texto seguinte:

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Certos nomes ou invocações de Nossa Senhora, pelo fato de os termos ouvido sempre, desde a infância, não nos chamam a atenção. Mas, para quem nunca os ouviu, parecem um tanto estranhos. Fato muitas vezes embaraçoso para quem reside ao lado de uma imagem que sempre invocou e nem sabe qual a origem do nome. Foi o que aconteceu a um amigo com a invocação de Nossa Senhora do Ó. Tantas vezes a ouviu, e quando lhe perguntaram o significado dela, que perplexidade!

Após o pecado original, Deus prometeu a Adão que viria um Redentor. A humanidade ficou séculos esperando o nascimento daquele que nos abriria as portas do Céu. Especialmente no povo eleito, havia os que aguardavam o nascimento desse Salvador, o Messias. E, sobretudo, esperava-O ardentemente uma donzela pertencente ao povo judeu: Maria Santíssima.

© Guillaume Piolle / CC BY 3.0 – via Wikipedia

Para celebrar essa expectativa de Nossa Senhora, o anseio e a alegria com que Ela aguardava o nascimento de seu divino Filho, determinou a Igreja que a última semana antes do Natal fosse denominada “da expectação” ou “da esperança”. E que esses desejos estivessem refletidos nas antífonas do Ofício ou Breviário que os sacerdotes e religiosos devem rezar.

Por coincidência, nessa mesma semana, elas começavam todas por “Ó!“: Ó, Sabedoria! Ó, Emmanuel! Ó, Rei dos Povos!, etc; antífonas que terminavam todas com a invocação “veni”, ou seja, “vinde“.

Tais súplicas ardentes, para que viesse logo o Salvador do mundo, a Santa Igreja as extraiu das mais notáveis passagens da Sagrada Escritura, nas quais os Patriarcas e Profetas manifestavam seus desejos de que nascesse o quanto antes o Redentor.

Se eles manifestavam assim tais desejos, quanto mais não os manifestaria Nossa Senhora, que sabia estar tão próximo o nascimento do Messias! E se eles diziam “Ó, Senhor, vinde logo“, com quanta mais fé Nossa Senhora não diria o mesmo! Desse pensamento piedoso nasceu a devoção a Nossa Senhora do Ó.

Uma devoção que sobrevive à transformação da cidade de São Paulo

Na capital paulista, a paróquia da Freguesia do Ó, e o bairro nascido em torno dela, devem o seu nome a essa invocação. Já em 1618 havia sido construída uma capela com tal nome numa aldeia de índios próxima a Piratininga pelo bandeirante Manuel Preto. Mas com o aumento da população foi necessário edificar novo templo, concluído em 1795. Essa nova igreja incendiou-se no final do século XIX, tendo sido substituída pela atual, que data de 1901.

Se esse templo falasse, poderia narrar as incríveis transformações que viu se realizarem a seu redor… Em todo caso, é reconfortante ver ainda hoje a torre da igreja com seus anjos tocando trombeta para celebrar a alegria da Virgem que vai dar à luz.

Devoção antiga em três outros Estados brasileiros

Embora não haja documentos que o comprovem, parece ter sido em Olinda que começou essa devoção no Brasil. Isto porque existe uma imagem que consta ter sido levada lá por ocasião da fundação da cidade. Talvez a tenha conduzido algum devoto português de Évora ou Torres Novas, locais onde tal devoção é muito difundida. Em todo caso, é certo que já em 1709 a imagem se encontrava no local.

No Rio de Janeiro, existiu uma pequena capela dedicada a Nossa Senhora do Ó, na Várzea, junto ao morro de São Januário e da praia, que foi construída após a reconquista da cidade das mãos dos franceses calvinistas.

Na cidade de Sabará, em Minas Gerais, a devoção foi levada àquela região pela família do bandeirante Bartolomeu Bueno, a qual construiu no século XVIII uma igreja com a mesma invocação.

Em vários lugares do território brasileiro, portanto, a devoção tem origem muito antiga, e, se em alguns locais a devoção infelizmente desapareceu, em outros se mantém até o presente.

Também na América hispânica a devoção se difundiu, o que não é de estranhar, uma vez que foi um espanhol do século VII, Santo Ildefonso, bispo de Toledo, na Espanha, quem pela primeira vez mandou festejar tal invocação.

E foi especialmente no Peru que a devoção vingou, graças ao empenho dos padres jesuítas. Estes fundaram em Lima, na igreja de San Pedro y San Pablo, uma confraria que começou com apenas 12 pessoas e poucos recursos, foi crescendo até contar atualmente com centenas de associados e um capital considerável.

Infelizmente, tanto no exterior quanto no Brasil a devoção foi decaindo, por motivos vários. Dentre eles, convém assinalar o fato de o homem moderno ter o coração fechado para as alegrias inocentes, como é a alegria do Natal, ou a alegria da mãe que espera o nascimento de seu filho. Quantos homens não sentem mais nenhuma alegria no Natal, quando antes o esperavam ansiosos na infância!

Concluímos com uma proposta: assim como Nossa Senhora, na expectativa do nascimento do Salvador, rogava “Ó, Senhor, vinde logo!“, também nós devemos, hoje mais do que nunca, suplicar:

Ó, Senhora, vinde logo! Antes havia a expectativa da vinda de Vosso Divino Filho. Hoje, grande é a expectativa de que se cumpram as profecias que anunciastes em Fátima no ano de 1917. Não tardeis!

Iconografia e data litúrgica

A imagem de Nossa Senhora do Ó apresenta a mão esquerda espalmada sobre o ventre em fase final de gravidez. A mão direita pode aparecer em simetria à outra ou levantada. Encontram-se imagens com esta mão segurando um livro aberto ou também uma fonte, ambos significando a Fonte da Vida.

Nossa Senhora do Ó é celebrada no dia 18 de dezembro, já às portas do Natal do Salvador.

Bibliografia:
– Ruben Vargas Ugarte, S.J., “Historia del Culto de María en Iberoamérica y de sus Imágenes y Santuarios más celebrados”, Madrid, 1956, Tomo II, 3a edição.
– Nilza Botelho Megale, “Cento e doze invocações da Virgem Maria no Brasil”, Ed. Vozes, 2a edição, Petropolis, 1986.
– Edésia Aducci, “Maria e seus gloriosos títulos”, Ed. Lar Católico, 1a edição, 1958.

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A partir de matéria da Revista Catolicismo, fevereiro de 2000

 

Fonte: Aleteia