“Por ‘Educação é uma disciplina’, refiro-me à disciplina de hábitos formados definitivamente e conscientemente, quer sejam hábitos da mente ou do corpo. Os fisiologistas nos falam da adaptação da estrutura cerebral às linhas habituais de pensamento – isto é, aos nossos hábitos.”

Mas, muitas dúvidas surgem, então, sobre como corrigir um mau hábito, ou mau comportamento. O que Charlotte tem a dizer sobre isso?

Primeiro, temos o conceito de Autoridade: nós temos uma autoridade que nos foi delegada pela nossa Autoridade Suprema, o Senhor Jesus. Isso significa duas coisas, pelo menos.

1) Devemos exercer a autoridade: Há uma Lei, a lei de Deus, que rege e governa a todos, tanto a nós (que somos autoridades sobre nossos filhos) quanto aos nossos filhos. Ou seja, por mais que sejamos autoridades, ainda estamos SOB autoridade dAquele que governa a todos e requer que seus mandamentos sejam obedecidos. Portanto, nosso governo sobre nossos filhos não é uma questão de gosto pessoal. Nós não temos autorização de escolher o que vamos ordenar ou o que vamos condescender. Nós não temos autorização para sermos arbitrários com nossos filhos, permitindo que eles quebrem uma lei que foi estabelecida por Deus. Nosso dever é cumprir e fazer cumprir a Lei de Deus e jamais nos colocarmos como autoridade suprema dando ao nosso filho permissão para fazer algo que desagrada a Deus.

2) Devemos fugir do autoritarismo: exercer autoridade não é ser autoritário. Parte disso significa que você está igualmente submetido à Lei e não acima dela. Outra parte tem a ver com o que Charlotte fala no seu volume 5:

“Precisamos que graça nos siga e nos restrinja, e precisamos conscientemente e diligentemente usar essa graça para nos manter em autoridade em espírito de mansidão, lembrando sempre que Aquele a quem foi confiada a vara de ferro (ref. ao Salmo 2) é manso e humilde de coração. Na medida em que nos mantemos plenamente alertas para nossa tendência (de agir com tirania) nesta questão de autoridade, estaremos mais preparados para administrar a lei a criaturas tão ternas de corpo e alma como as criancinhas. Lembraremos que uma palavra pode machucar, que um olhar pode ferir como um golpe. Pode realmente se fazer necessário ferir afim de curar, mas nos examinaremos bem antes de “usarmos o bisturi”. Não haverá precipitação para repreender e punir, recompensar e elogiar, a depender de nosso estado de humor.”

E, em segundo lugar, temos o conceito de Disciplina de Charlotte, que poderia ser reescrito assim:

“Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.” (Rm 12:21)

Ou seja, devemos estar conscientes de que muito mais do que punir os defeitos de nossos filhos, devemos nos responsabilizar pela formação de seu caráter. Portanto, nosso esforço contínuo deve ser o de encorajar nossos filhos a vencer o mal com o bem. Ela não nega que às vezes “disciplina” pode significar “punição”, mas esse deveria ser um caso extremo. Na maior parte do tempo, nossa tarefa como mães amorosas é ajudar nossos filhos a seguir a orientação bíblica que Paulo dá em quase todas as suas cartas: “despojar e revestir”, arrancar a semente do mal, a erva daninha, e ocupar o “terreno vazio” com sementes do bem (hábitos e pensamentos que concordam com os mandamentos do Senhor).

“Se a punição (física) fosse necessariamente reformadora e capaz de nos curar de todos aqueles pecados possíveis, então, o mundo seria um mundo muito bom; porque nenhuma forma de pecado escaparia ao seu castigo vigente. O fato é que essa punição não é desnecessária ou inútil, mas é inadequada e dificilmente atinge nosso objetivo; isto é, não o castigo pela ofensa, mas a correção daquela falta de caráter da qual a ofensa é resultado. Jemmy conta mentiras e nós o punimos; e ao fazer isso, registramos nossa percepção da ofensa; mas, provavelmente, nenhuma punição poderia ser inventada de forma suficientemente drástica para curar Jemmy de contar mentiras no futuro; e este deveria ser nosso objetivo. Devemos olhar mais profundamente; devemos descobrir qual a fraqueza de caráter, qual falso hábito de pensar, leva Jemmy a mentir, e devemos lidar com esse falso hábito da única maneira possível: formando o hábito contrário do pensamento verdadeiro, que fará com que Jemmy cresça como um homem de palavra.”

“O que entendemos por disciplina não diz respeito meramente a alguns surtos de punições ocasionais, mas a vigilância e o esforço incessante, que acrescentam para a formação e preservação dos hábitos da boa vida”.

“Deixe-me oferecer alguns conselhos práticos definidos para um pai que deseja lidar seriamente com um mau hábito. Primeiro – vamos lembrar que esse mau hábito fez seu registro no cérebro. Segundo – Há apenas uma maneira de eliminar esse registro: a cessação absoluta do hábito por um considerável espaço de tempo, digamos, cerca de seis ou oito semanas. Terceiro – Durante esse intervalo, um novo crescimento, novas conexões celulares, de alguma forma estão ocorrendo, e a sede física do mal está passando por uma cura natural. Quarto – Mas a única maneira de garantir essa interrupção é introduzir um novo hábito atraente para a criança, assim como o hábito errado que você se prepara para curar. Quinto – Como o mau hábito geralmente surge do defeito de alguma qualidade na criança, não deve ser difícil para o pai que conhece o caráter de seu filho introduzir o bom hábito contrário. Sexto – Aproveite um momento de confiança feliz entre pai e filho; introduza, por conto ou exemplo, a ideia estimulante. Sétimo – Não mande que a criança faça a coisa nova, mas calmamente e alegremente certifique-se de que ela faça aquilo em todas as ocasiões possíveis, por semanas se necessário, o tempo todo estimulando a nova ideia, até que ela tome posse da imaginação da criança. Oitavo – Monte guarda contra qualquer recorrência do mau hábito. Nono – Se a falha antiga se repetir, não a tolere. Faça com que o castigo, principalmente no sentido de seu distanciamento, seja agudamente sentido. Faça com que a criança sinta vergonha não apenas de ter cometido um erro, mas de ter cometido um erro quando era perfeitamente fácil evitar-lo e fazer o certo. Acima de tudo, “vigie em oração” e ensine seu filho a depender da ajuda divina nesta guerra espiritual; mas, também, ensine-o sobre a absoluta necessidade de seus próprios esforços.”

“Faça com que o mês de tratamento seja um mês deliciosamente feliz para a criança, vivendo o tempo todo sob o brilho do sorriso de sua mãe. Não permita que ela seja deixada a si mesma para meditar ou realizar brincadeiras feias. Faça com que ela se sinta sempre sob um olhar atento, amoroso e aprovador. Mantenha-na feliz ocupada, bem divertida. Tudo isso para romper com o antigo hábito, que é seguramente rompido quando não é repetido durante um certo período de tempo. Um hábito expulsa outro.”

“Sim; mas onde está sua mãe para conseguir tempo nestes dias de investida…? Ela tem outras crianças e outros deveres, e simplesmente não pode se entregar por um mês ou uma semana a uma criança. Se o menino estivesse doente, em perigo, ela encontraria tempo para ele então? Os outros deveres não seriam deixados de lado e ela não se dedicaria ao seu filhinho como seu principal objetivo na vida, durante aquele período? As enfermidades morais precisam de atenção imediata. Aqui está um ponto para o qual todos os pais não estão suficientemente atentos – que graves enfermidades mentais e morais exigem pronto tratamento curativo, ao qual os pais devem dedicar-se por um curto período de tempo, assim como o fariam por uma criança doente. Nem puni-lo nem deixá-lo sozinho – as duas linhas de tratamento mais praticadas ​​- curam uma criança de qualquer mal moral. Se os pais reconhecessem a eficácia e o efeito imediato do tratamento, nunca permitiriam a disseminação de ervas daninhas. Pois mantenha isso em mente para qualquer defeito que desfigure a criança: ela é exatamente como um jardim cheio de ervas daninhas; quanto mais prolíficas são as ervas daninhas, mais fértil o solo; ela tem dentro de si toda possibilidade de beleza de vida e caráter. Livre-se das ervas daninhas e cultive as flores.”

Arielle P.F. de Eça

 

Fonte: https://charlottemasonbrasil.com/2018/06/12/educacao-e-uma-disciplina-e-a-punicao/