A festa de Cristo Rei foi instituída no mês de dezembro de 1925, pelo Papa Pio XI (1922-1939), através da Encíclica Quas Primas. Estabeleceu-se que seria celebrada no domingo anterior à Solenidade de Todos os Santos; e assim foi até 1970, quando Paulo VI, pretendendo destacar ainda mais o caráter cósmico e escatológico do reinado de Cristo, denominou-a Festa de “Cristo Rei do Universo”, que é como se denomina hoje, fixando a sua celebração no último domingo do Ano Litúrgico.  Colocada, assim, como encerramento do Ano Litúrgico, a Solenidade de Cristo Rei aparece como síntese dos mistérios de Cristo comemorados no curso do ano, como o vértice em que resplandece com mais intensa luz a figura do Senhor e Salvador de todas as coisas. Dessa maneira, já se vai direcionando a meditação para o tempo do Advento, na perspectiva da Segunda Vinda Gloriosa de Nosso Senhor Jesus Cristo.

O estabelecimento desta festa em 1925 não significa que a Igreja tivesse esperado vinte séculos para reconhecer e celebrar o senhorio e o reinado universal de Cristo, uma vez que as festas da Epifania, Páscoa e Ascensão também são festas de Cristo Rei. Mas o Papa Pio XI decidiu estabelecer uma festa específica com finalidade pedagógica: diante do avanço que se via, naquela época, do ateísmo e da secularização da sociedade, o papa considerou oportuno  destacar a autoridade soberana de Cristo acima de todos os homens, de todas as instituições e de todas as nações. Pio XI percebera que “a maioria dos homens havia se afastado de Jesus Cristo e de Sua lei santíssima tanto em sua vida e costumes, como na família e no governo do Estado, mas também que nunca resplandeceria uma esperança certa de paz verdadeira entre os povos enquanto os indivíduos e as nações negassem e rejeitassem o império de nosso Salvador.” Hoje, mais do que nunca, essas palavras do papa nos são oportunas e necessárias. A situação do mundo atual é ainda mais grave, pois o relativismo e o secularismo estão atingindo níveis de agressividade e intolerância raramente vistos na história, diante do ateísmo prático e do agnosticismo que caracterizam nosso tempo.

Na Solenidade de Cristo Rei, a Igreja anuncia, cheia de alegria, que o Cordeiro sacrificado, ao entregar sua vida no altar da Cruz, “faz novas todas as coisas”.  É a Solenidade do Cristo Pantokrator, que governa todas as coisas e recapitula todo o universo criado, reordenando todas as coisas segundo os desígnios do Pai. Assim Jesus Cristo recuperou com seu Sangue Precioso toda a criação, para entregá-la novamente ao Pai.

Depois de séculos de modernidade dedicando-se ao império da razão dispensando Deus, o homem se vê perdido diante da percepção de sua impotência radical e se ilude substituindo Deus pela posse das coisas e satisfações efêmeras, tornando-se escravo delas, submerso numa existência inautêntica e vazia. É tempo, mais do que nunca, de retomar o caminho da verdadeira felicidade, submetendo-se ao Senhorio d’Aquele que é a verdadeira Vida, a Verdade em Que se fundam todas as nossas verdades: Jesus Cristo Senhor.

Portanto, aproveitemos esse tempo, que é verdadeiro Kairós – o tempo oportuno de graça e salvação – que Deus nos concede em Sua infinita misericórdia, e renovemos nossa entrega a Ele, a fim de que Ele reordene toda a nossa existência para a plenitude. E, num gesto de sabedoria, submetamos toda a nossa vida ao Seu Senhorio, pois Ele nos dá tudo; tudo é nosso; mas, nós somos de Cristo (cf. 1Cor 3, 23).

Kátia Maria Bouez Azzi
Consagrada na Comunidade Pantokrator

 

Fonte: Comunidade Pantokrator